menu interno 2

A grande confusão sobre os 7 anos: quando os hábitos financeiros realmente se formam?

Imagem para blog

Por que a frase “hábitos financeiros se formam até os 7 anos” precisa ser revisitada com mais cuidado e menos culpa?

Você já deve ter esbarrado com essa frase:

“Os hábitos financeiros são formados até os 7 anos de idade.”

Ela aparece em palestras, posts motivacionais, rodas de conversa entre pais, até em materiais de formação profissional. Repetida tantas vezes, acaba ganhando status de verdade absoluta. E com isso, vem junto um sentimento silencioso de urgência — ou, pior, de culpa.

Afinal…
E se eu perdi o timing?
E se meu filho já passou dos 7 e eu nem comecei?
Será que já era?

Essa frase soa certeira, tem um ar científico. Mas ela está incompleta. E o problema de frases incompletas — ainda mais quando se trata da infância — é que elas podem gerar interpretações erradas.

Vamos à origem?

De onde veio essa história?

Essa afirmação ganhou força após um estudo da Universidade de Cambridge publicado em 2013, conduzido por especialistas em comportamento econômico infantil. O estudo é, de fato, valioso e amplamente citado. Mas, como acontece com frequência, o que foi divulgado nas manchetes se distanciou do que realmente foi dito pelos pesquisadores.

O estudo aponta que:

“Muitos hábitos que levarão ao comportamento financeiro adulto são moldados em torno dos 7 anos de idade.”

Note bem: moldados.
Não definidos.
Não finalizados.
Não imutáveis.

O que os autores quiseram dizer é que algumas bases cognitivas e comportamentais — como controle de impulsos, capacidade de esperar recompensas, noção de troca e repetição de padrões observados — começam a se desenvolver nessa faixa etária.

Ou seja: a infância é, sim, um terreno fértil para desenvolver as sementes do comportamento financeiro.
Mas isso está longe de significar que tudo está pronto e cristalizado aos 7 anos.

O risco da frase fora de contexto

Quando uma ideia como essa ganha o mundo desconectada da sua complexidade original, ela perde a nuance. E quando isso acontece, as consequências podem ser sérias.

Quantos pais já se sentiram culpados ou atrasados por não terem “ensinado finanças” cedo o suficiente?
Quantos profissionais acreditam que só têm impacto se atuarem com crianças pequenas, e não com adolescentes?
Quantas crianças são pressionadas a entender conceitos que sequer fazem sentido para sua fase de desenvolvimento?

Esse é o perigo de transformar ciência em slogan.
A frase vira regra.
A regra vira medo.
E o medo paralisa — justamente onde deveria haver acolhimento e continuidade.

Educação financeira é um processo, não um ponto de chegada

Se tem algo que aprendemos com a neurociência e a psicologia do desenvolvimento é que o cérebro está em constante transformação. Os chamados “períodos sensíveis” do desenvolvimento indicam fases de maior plasticidade e receptividade a certos aprendizados — mas não definem uma data de validade para o crescimento.

Ainda que a infância seja uma fase privilegiada para formar hábitos, sempre é tempo de aprender, reaprender e reconstruir. Inclusive com os adultos — que muitas vezes também não tiveram boa educação financeira na infância.

Por isso, afirmar que “os hábitos se formam até os 7 anos” pode desestimular exatamente aquilo que precisamos: adultos engajados, disponíveis, dispostos a caminhar junto com as crianças.

O convite que fica

Se você já ouviu essa frase e ficou angustiado, quero te tranquilizar: você não está atrasado.

Nunca é tarde para começar de um novo lugar.
Um lugar onde a educação financeira respeita o tempo da infância, valoriza a presença do adulto e reconhece que o aprendizado acontece em ciclos — não em prazos.

E da próxima vez que ouvir uma frase “baseada em estudo”, respire fundo.
Pergunte: qual estudo? Onde está? O que ele realmente diz?
Interpretar com cuidado é um dos maiores presentes que podemos oferecer às crianças.

Porque não estamos falando de qualquer assunto.
Estamos falando da vida financeira, emocional e social de uma geração inteira.

E o futuro a gente transforma…
Cuidando do presente. 💜

Com carinho,
Priscila Rossi
Psicóloga e Especialista Educadora Financeira Infantil

Carrinho de compras